Covid-19: vacinas aplicadas no Brasil conferem proteção adicional a quem teve a doença
Um estudo publicado no site Medrxiv, nesta quarta-feira (29/12), mostra que as quatro vacinas aplicadas no Brasil conferem um alto grau de proteção adicional contra a infecção sintomática e as formas graves da Covid-19 em indivíduos que já haviam contraído o Sars-CoV-2 previamente. O estudo, liderado por Julio Croda e Manoel Barral-Neto, pesquisadores da Fiocruz, reforça ainda a importância do esquema vacinal completo, mesmo para essas pessoas. O trabalho pode ser acessado aqui.
Em formato de preprint (sem revisão dos pares), Effectiveness of CoronaVac, ChAdOx1, BNT162b2 and Ad26.COV2.S among individuals with prior SARS-CoV-2 infection in Brazil mostra que as quatro vacinas apresentam efetividade de 39% a 65% para prevenir as formas sintomáticas da doença. No caso das três vacinas com esquema de duas doses (Coronavac, AstraZeneca e Pfizer), a segunda dose fornece uma efetividade significativamente maior quando comparada com a primeira. A média de proteção contra hospitalização ou morte excede 80% 14 dias após o esquema vacinal completo – em comparação com pessoas infectadas e não vacinadas.
“A importância de ser vacinado é a mensagem principal, e a necessidade dessas duas doses para maximizar a proteção. Vemos que alguns países chegam a recomendar apenas uma dose para quem teve Covid, por considerar que estes já contam com um certo nível de anticorpos neutralizantes. Mas esse tipo de avaliação de efetividade na vida real mostra que há um ganho adicional com a segunda dose. É um ganho substancial contra as formas graves”, explica Julio Croda, pesquisador da Fiocruz Mato Grosso do Sul e principal investigador do estudo.
Efetividade contra reinfecção
A efetividade das vacinas contra o Sars-CoV-2 já havia sido provada em pessoas que nunca tiveram a doença, mas seus efeitos em indivíduos infectados previamente não eram claros. A partir da base nacional de dados sobre notificação, hospitalização e vacinação, os pesquisadores utilizaram um desenho de teste negativo para verificar a efetividade da Coronavac, AstraZeneca, Janssen e Pfizer em pessoas previamente infectadas.
“Para AstraZeneca e Pfizer, só havia um artigo sobre desfechos graves, e envolvia apenas 75 indivíduos. Não havia nada sobre Janssen e Coronavac para doença sintomática e casos severos”, observa Croda.
Foram avaliados 22.565 indivíduos acima dos 18 anos que tiveram dois testes de RT-PCR positivos e 68 mil que tiveram teste positivo e depois negativo, entre fevereiro e novembro deste ano. Os pesquisadores descobriram que a após a infecção inicial a efetividade para posterior doença sintomática 14 dias após o esquema vacinal completo é de 37,5% para a Coronavac, 53,4% para AstraZeneca, 35,8% para Janssen e 63,7% para Pfizer. Nas vacinas de duas doses, a efetividade contra hospitalização e morte no mesmo período é de 82,2% com a Coronavac, 90,8% com a AstraZeneca e 87,7% com a Pfizer. Na Janssen, de apenas uma dose, é de 59,2%.
Imunização híbrida
A infecção por Sars-CoV-2 induz respostas robustas das células T e B, relacionadas à imunidade. Pessoas que contraíram o vírus apresentam, então, um risco menor de infecção sintomática e das formas graves da doença. Muitos se baseiam nisso para discutir a necessidade de vacinar ou não quem já teve Covid-19, ou mesmo de a pessoa tomar apenas uma dose, como lembra Croda. O surgimento de novas variantes mais transmissíveis, com capacidade de escapar ao sistema imunológico e resultar em novas ondas de infecção e reinfecção, renovaram discussões sobre o tema.
“Descobrimos que uma segunda dose de CoronaVac, ChAdOx1, e BNT162b2 forneceu proteção adicional significativa contra infecções sintomáticas e a forma grave da doença”, diz o texto. Segundo o estudo, este alto grau de imunização híbrida, resultante da combinação de infecções e vacinas, poderia explicar por que o Brasil, apesar de ter uma cobertura vacinal comparável à dos Estados Unidos e dos países da Europa, não tenha observado uma alta semelhante das hospitalizações e mortes no período em que a variante Delta se tornou prevalente.
Várias unidades da Fiocruz e instituições brasileiras e estrangeiras participaram do trabalho. O estudo conta com pesquisadores do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia); do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia); da Fiocruz Brasília e da Fiocruz Mato Grosso do Sul; além de cientistas da Universidade Federal da Bahia; da Universidade de Stanford, do Barcelona Institute for Global Health; Hospital das Clínicas de Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; da London School of Hygiene and Tropical Medicine; da Universidade Federal de Ouro Preto; da Universidade da Flórida; da Yale School of Public Health; da Universidade de Brasília; da Emory University; da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Fonte: https://portal.fiocruz.br