Entenda por que as medidas restritivas são necessárias neste momento
Devido à alta taxa de ocupação de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Distrito Federal por conta do aumento de novos casos de infecções pelo novo coronavírus Sars-CoV-2, o Governo do Distrito Federal (GDF) publicou, no último sábado (27), o Decreto nº 41.849, que prevê, até 15 de março, o fechamento das atividades em estabelecimentos comerciais como forma de combate à Covid-19.
Em paralelo a isso, o GDF trabalha por meio da Secretaria de Saúde na ativação de mais leitos de UTI para ampliar a oferta e manter garantida a assistência à população. Entre sexta-feira (26) e segunda-feira (1º/3), foram mobilizados 66 leitos de UTI.
Restrição temporária
De acordo com o diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde, Cássio Peterka, a taxa de transmissão da Covid-19 está aumentando nos últimos dias e, o índice registrado na última sexta-feira (26) revela a maior taxa já registrada desde o início da pandemia.
“Independentemente do valor, é a variação e o aumento da taxa de transmissão do vírus que refletem nos leitos de UTI. Hoje, 70% das regiões administrativas já têm taxas de transmissão acima de 1 e as outras estão bem próximas disso. Apesar das restrições, as medidas ainda devem demorar uns 15 dias para surtirem efeito”, explica.
Peterka destaca que o fato de as pessoas terem relaxado com relação às recomendações de não aglomerar, usar máscaras e álcool em gel e respeitar o distanciamento social reflete claramente na situação atual. Ele esclarece ainda que não é uma nova variante que aumenta os casos, mas sim, o crescimento de casos que podem resultar no surgimento de uma nova variante.
“As pessoas precisam entender que não podem abandonar as medidas de prevenção, pois elas são as mesmas desde o início da pandemia. É extremamente importante evitar aglomerações e manter os cuidados com a higiene, pois a imunidade pela vacina ainda deve demorar”, frisa.
Medidas extremas, mas necessárias
Diante dos indicadores, taxa de transmissão do vírus, número de ocupação de leitos e as aglomerações flagradas nos últimos dias, o Distrito Federal decidiu adotar medidas que são extremas, mas, no entanto, essenciais no atual cenário, conforme explica Joana D’Arc Gonçalves, infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A médica alerta que, até o momento, não existe um tratamento eficaz contra a Covid-19, e o que se tem é um conjunto de ações que ajudam a minimizar os danos associados ao vírus. As restrições determinadas pelo governo são para conter a circulação do vírus.
“É uma ação tomada em diferentes países quando se tem um risco e ritmo elevado de contágio, um potencial de propagação aumentado, que é o que estamos vivendo no Brasil e no DF. As restrições mais rígidas são medidas eficazes para diminuir de forma abrupta o número de infectados e o número de transmissores e, com isso, temos um respiro com relação aos serviços de saúde”, destaca.
Segundo Joana D’Arc, quanto mais infectados, mais pessoas com a doença podem ficar em estado grave. Enquanto os leitos de UTI estiverem ocupados, o risco de ter mais óbitos é sempre alto. A infectologista informa que, infelizmente, essa medida drástica é necessária por um período para reorganização do sistema de saúde, realocação dos pacientes graves e reestruturação temporária, pois é fundamental diminuir o número de casos expostos neste momento para evitar um colapso do sistema de saúde.
Vacina e proteção de rebanho
O papel da vacina no organismo é estimular a produção de anticorpos que são capazes de frear a infecção ou prevenir formas graves da doença. O imunizante também pode ajudar a evitar hospitalizações sem a pessoa passar pela história natural da doença, ou seja, todo o processo de infecção da Covid-19.
“A vacina também é essencial para frear a transmissão da doença, pois através da vacina vamos interromper o ciclo de transmissão e o ritmo de contágio será cada vez menor. Quanto mais pessoas vacinarem, menor a circulação viral. Para ter a imunidade de rebanho é necessário ter 80% da população vacinada. Ainda há um longo caminho a percorrer para termos essa imunidade de rebanho”, informa Joana D’Arc.
O chefe da Unidade de Pneumologia do Hran, Paulo Feitosa, alerta que a Covid-19 além de causar sequelas respiratórias, também atrapalha no controle das doenças respiratórias. Segundo ele, esse é um momento muito delicado em que há um aumento grande da doença, e a sociedade precisa de muita consciência.
“A gente precisa que as pessoas façam o distanciamento social, usem álcool em gel e máscara. Iremos vencer a doença, mas precisamos vacinar de 70% a 80% da população para promover esse equilíbrio e isso, infelizmente, ainda está distante. Então, este é o momento da consciência individual”, alerta.
Mobilização de leitos de UTI
A Secretaria de Saúde ampliou a oferta de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) na última semana. O secretário adjunto de Assistência, Petrus Sanchez, destaca que o objetivo é ofertar o maior número de leitos possíveis para pacientes com Covid-19. “Todos os 60 leitos do Hospital de Campanha de Ceilândia serão transformados em leitos de UTI. Além disso, ampliaremos os leitos de enfermaria do Hran para melhor atender os pacientes com Covid”, adianta ele.
Fiscalização
A Vigilância Sanitária tem papel fundamental na fiscalização do cumprimento das medidas impostas no Decreto Nº 41.849. Desde o início da pandemia, a Divisão de Vigilância Sanitária realiza diversas fiscalizações individuais e em conjunto com outros órgãos fiscalizadores.
“Desde outubro do ano passado muitas casas noturnas estão cheias. Muitas delas foram interditadas. Chegamos a desinterditar na promessa de que iriam cumprir as medidas de enfrentamento e o resultado foi aglomeração novamente. Infelizmente, desse jeito não dá”, afirma o diretor substituto da Vigilância Sanitária, André Godoy.
Segundo ele, a ajuda de outros órgãos fiscalizadores tem sido essencial. No entanto, o principal fiscal é o cidadão consciente. “Não se trata de não pegar: trata-se de respeito aos mais vulneráveis, de respeito aos trabalhadores dos serviços de saúde”.
Fonte: http://www.saude.df.gov.br