Variantes de vírus são esperadas, mas vigilância deve continuar monitorando possíveis mudanças nos padrões clínicos, dizem especialistas
Nas Américas, uma rede de laboratórios de 22 países contribui para a detecção de variantes do SARS-CoV-2. Até agora, 37 países e territórios confirmaram a presença de uma ou mais das quatro variantes de preocupação. Monitorá-las é a chave para detectar quaisquer mudanças incomuns ou inesperadas que possam afetar as medidas de controle, incluindo as vacinas
As variantes do vírus SARS-CoV-2, que causa a COVID-19, são esperadas, mas a vigilância genômica nas Américas deve continuar detectando qualquer aumento incomum ou inesperado de casos, aumento na letalidade ou mudança nos padrões clínicos que podem afetar as medidas de controle, incluindo vacinas.
Durante um webinar para jornalistas, especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) discutiram as principais questões levantadas sobre as variantes, incluindo seu impacto na transmissibilidade, na gravidade da COVID-19 e na eficácia das vacinas.
As mutações são esperadas no processo de evolução e adaptação do vírus, disse Jairo Mendez Rico, assessor regional para Doenças Virais da OPAS. Quando essas variantes têm um impacto ou risco potencial para a saúde pública, são consideradas variantes de preocupação. Quatro delas foram detectadas nas Américas: P.1 (originada no Brasil), 1.1.7 (originada no Reino Unido), B.1.351 (originada na África do Sul) e B.1.617 (originada na Índia).
Até agora, 37 países e territórios confirmaram a presença de uma ou mais das quatro variantes de preocupação. A variante B.1.1.7 foi confirmada em 34 países; a variante B.1.351 em 17; já a variante P.1 foi identificada em 21 países; a variante B.1.617 em oito.
A ocorrência de mutações é um evento natural e esperado dentro do processo evolutivo do vírus. Essas mudanças podem levar a vantagens para o vírus atingir seus “objetivos”, que são ter uma melhor capacidade de entrar nas células e depois se replicar, tentando escapar da resposta imunológica, natural ou mediada por vacina, ressaltou Mendez.
“Embora algumas (variantes de preocupação) tenham demonstrado uma capacidade aprimorada de se replicar e transmitir, elas não são mais agressivas ou graves”, afirmou Mendez ressaltando que, de uma perspectiva evolutiva, não é do interesse do vírus matar seu hospedeiro. O assessor regional também disse que, “até o momento, não há evidências suficientes para inferir que as vacinas disponíveis atualmente não funcionam contra essas variantes”.
Quanto mais alto o nível de transmissão dentro das populações, mais provável é que ocorram mutações virais. Especialistas concordam que desacelerar ou interromper a transmissão é a única maneira de evitar o aparecimento de novas variantes.
Os especialistas recomendam manter todas as medidas de saúde pública onde o vírus está circulando, independentemente das variantes. Isso inclui o uso de máscaras faciais, manter o distanciamento físico de outras pessoas, evitar espaços lotados e fechados, abrir janelas para ventilação, higienizar as mãos e se vacinar quando os imunizantes estiverem disponíveis. Também recomendam o fortalecimento da vigilância epidemiológica e genômica para reduzir a propagação do vírus e possíveis mutações.
Rede de vigilância genômica de COVID-19
Quando a pandemia de COVID-19 começou em 2020, a OPAS estabeleceu a Rede Regional de Vigilância Genômica de COVID-19 para fortalecer a capacidade de sequenciamento nos laboratórios participantes nas Américas e para estabelecer o sequenciamento genômico de SARS-CoV-2 de rotina. A rede nas Américas foi significativamente expandida para identificar e rastrear variantes do vírus. Vinte e dois países participam da rede, dando uma imagem muito melhor das variantes que circulam em nossa região.
Além disso, como parte da rede, existem atualmente seis laboratórios regionais de referência auxiliando países com sequenciamento genômico de variantes: Fiocruz, no Brasil; Instituto de Saúde Pública do Chile; InDRE, no México; Instituto Gorgas, no Panamá; Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), em Atlanta; e Universidade das Índias Ocidentais, em Trinidad e Tobago.
Os países das Américas começaram a usar a vigilância genômica durante surtos de cólera anos atrás, e isso continuou com surtos de gripe, chikungunya, zika e febre amarela. Esta longa experiência agora está sendo aplicada para acompanhar de perto o SARS-CoV-2.
Sylvain Aldighieri, gerente de incidentes para COVID-19 da OPAS, disse que é vital manter a vigilância genômica e epidemiológica coordenada “para detectar qualquer aumento incomum ou inesperado nos casos, aumento na letalidade ou mudança nos padrões clínicos, porque esses aspectos podem estar associados com uma variante específica. É por isso que a colaboração e a troca de informações entre os países são extremamente importantes.”
Fernando Motta, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), destacou a importância de sustentar e fortalecer a colaboração entre os países por meio da Rede coordenada pela OPAS para aumentar o número de sequências representativas da Região nas bases de dados globais e compreender melhor a epidemiologia molecular do vírus.
“Nosso laboratório no Brasil desenvolveu um padrão e protocolos padronizados que puderam ser utilizados, levando em consideração as diferentes tecnologias instaladas nos institutos capazes de sequenciar na rede – das metodologias mais antigas à nova geração – e ao mesmo tempo gerar capacidades junto com a OPAS para melhor apoiar as necessidades dos países sem essas tecnologias”, afirmou Motta.
Além de coordenar a rede de vigilância, a OPAS fornece reagentes aos países e laboratórios, organiza sessões de capacitação e atualização e cobre os custos de envio das amostras de variantes aos laboratórios de referência.
Embora a maioria das mutações não tenha impacto, algumas podem resultar em um vírus mais transmissível ou ajudar o vírus a escapar da resposta imunológica. Estas são as variantes rotuladas como “de preocupação”.
Fonte: https://www.paho.org