América Latina e Caribe enfrentarão “avalanche de agravamento dos problemas de saúde” se interrupção dos serviços de saúde devido à COVID-19 continuar, alerta OPAS
A diretora relata que mais de 300 mil crianças perderam a vacinação de rotina. A OPAS trabalha para ajudar os países da região a encontrar novas estratégias para a prestação de serviços e cuidados essenciais
A pandemia de COVID-19 interrompeu os serviços essenciais de saúde na maioria dos países e territórios da América Latina e do Caribe, ameaçando a imunização de crianças e a atenção a mulheres grávidas e pessoas com doenças crônicas, alertou nesta quarta-feira (28) a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne.
“Chamamos os países a garantirem que suas respostas à COVID-19 não deixem outros serviços de saúde essenciais, como imunização de rotina, para trás”, afirmou Etienne na coletiva de imprensa semanal da OPAS. “Esses serviços não são opcionais”, disse, ressaltando que a OPAS está ajudando os países a “ajustar e repensar como os cuidados essenciais são prestados no primeiro nível de atenção”.
A diretora da OPAS informou que mais de 300 mil crianças, principalmente no México e no Brasil, perderam suas imunizações de rotina, “deixando-as vulneráveis a infecções fatais, porém preveníveis”.
“A cobertura da primeira dose de vacinas contra o sarampo caiu 10% em oito países nas Américas – incluindo Venezuela, Panamá e Brasil – e até 20% no Suriname”, disse Etienne. “Se não revertermos essas tendências, corremos o risco de uma avalanche de agravamento dos problemas de saúde.”
Etienne acrescentou que em uma pesquisa recente de serviços de saúde na região, 97% dos países e territórios participantes relataram interrupções nos serviços de saúde, enquanto 45% relataram interrupções em pelo menos metade de seus serviços de saúde. “Em breve, a COVID-19 não será a única crise de saúde exigindo a atenção dos países”, afirmou.
A OPAS está apoiando os países na busca de alternativas para a prestação de serviços de saúde. Muitos sistemas de saúde, incluindo no Chile e no Peru, adotaram a telemedicina, enquanto outros lançaram programas de extensão à comunidade para que os pacientes possam receber atenção médica em suas casas.
A diretora da OPAS aconselhou os países a contratar e capacitar pessoal adicional para que todos os profissionais de saúde tenham as ferramentas e recursos que precisam para prestar uma atenção com segurança. Afirmando que os trabalhadores de saúde devem ser “justamente compensados por seus esforços extraordinários”, Etienne apresentou o exemplo do Chile, que aprovou recentemente um aumento salarial para profissionais de saúde que têm sido essenciais para a resposta à COVID-19.
“Sabemos que o retrocesso econômico desta pandemia está forçando os países a fazer escolhas difíceis sobre onde priorizar os gastos, mas não podemos cortar custos com a saúde”, disse Etienne. “É por isso que investir no primeiro nível de atenção agora é uma escolha inteligente para que possamos reverter as tendências de forma mais eficiente e equitativa do que se esperarmos que surjam crises de saúde. Como diz o ditado: ‘um grama de prevenção vale um quilo de cura’.”
Situação epidemiológica
Voltando-se ao contínuo “número de mortes devastadoras em nossa região” em razão da pandemia, a diretora da OPAS informou que Argentina, Colômbia, Cuba, Equador e Paraguai estão entre os países que relatam as maiores taxas de mortalidade semanais do mundo.
Os estados mexicanos de Baja California Sur, Quintana Roo e Yucatán estão notificando um aumento de novas infecções. Na América Central, os casos estão acelerando na Guatemala e continuam altos no Panamá. Cuba enfrenta taxas de infecção e mortalidade por COVID-19 mais altas do que em qualquer ponto da pandemia, com todas as faixas etárias afetadas.
Os casos estão diminuindo entre vários países da América do Sul, embora hotspots tenham sido notificados nas províncias argentinas na fronteira com a Bolívia e o Chile, e na região amazônica da Colômbia.
Ao todo, mais de 1,26 milhão de casos de COVID-19 e quase 29 mil mortes pela doença foram notificados nas Américas na semana passada.
Enquanto as infecções aumentam, “nossa região ainda não tem acesso às vacinas de que precisa para manter nossas populações seguras”, disse Etienne. “Até agora, apenas 16,6% da população da América Latina e do Caribe foi totalmente vacinada contra a COVID-19.”
A diretora da OPAS também chamou a atenção para o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, comemorado em 28 de julho. A pesquisa relatando ampla interrupção dos serviços essenciais de saúde também mostrou que o diagnóstico e o tratamento das hepatites B e C foram interrompidos pela resposta à COVID-19.
Fonte: https://www.paho.org