Leite materno funciona como uma vacina para os bebês
Crianças prematuras necessitam ainda mais de leite humano para ganhar imunidade
O incentivo à amamentação deve ocorrer durante todo o ano. Mas é especialmente na campanha Agosto Dourado que o tema ganha maior destaque pela sua importância para a saúde dos bebês. O leite materno deve ser o alimento exclusivo até os 6 meses de idade. Além de nutrir a criança, o líquido gerado pela mãe auxilia no crescimento e desenvolvimento e fortalece o vínculo materno – um dos aspectos mais importantes para o recém-nascido prematuro.
E são os prematuros que requerem uma atenção especial, principalmente quanto à amamentação. Crianças que nascem antes de completar 37 semanas de gestação são consideradas prematuras e a amamentação para elas é essencial pois, oferecida de forma exclusiva, diminui significativamente a incidência e a gravidade de algumas doenças específicas, que só ocorrem nessa fase da vida do bebê.
“Amamentar é um ato de amor. É o bem mais precioso que uma mãe pode dar a uma criança. Eu não pude amamentar, mas ofertei meu leite para a minha pequena. E eu sei que isso foi de extrema importância para ela”, relata a enfermeira Vanilda Lucia, mãe da Letícia Maria (foto ao lado), quem hoje tem 11 anos de idade, mas nasceu com prematuridade extrema, com 25 semanas e 4 dias de gestação.
Vanilda conta que Letícia precisou ficar internada na UTI neonatal por cem dias para ganhar peso e completar seu desenvolvimento fora do útero. Sendo uma profissional da saúde, ela sabia da importância que o próprio leite faria no desenvolvimento da filha.
“A vontade que eu tinha era de pôr ela no peito e vê-la sugar efetivamente mas, por ela ser muito prematura, ela não tinha resistência para sugar e, em poucos minutos, ela ficava cianótica, cansadinha”, lembra.
A enfermeira conta ainda que, ainda assim, a filha foi alimentada pelo leite produzido por ela com muito amor. “A cada hora eu estava ali ordenhando, pois eu sabia que cada gotinha era como se fosse o melhor remédio para ela”, explica. (À esquerda, Vanilda e a filha em foto mais recente)
Alimento necessário
Existem diferenças entre leite produzido pela mãe de um prematuro comparando com a mãe de um bebê termo (40 semanas). Isso quer dizer que cada mãe produz o leite ideal para suprir as necessidades daquele bebê.
O incentivo ao aleitamento começa desde a primeira consulta da gestante no pré-natal, em que são prestadas todas as orientações sobre a necessidade de amamentar logo após o nascimento como também os benefícios que o alimento oferece. Vale ressaltar que as necessidades de um bebê prematuro são mais específicas que as de uma criança que nasce a termo.
Recém-nascidos podem permanecer por muitos dias em UTIs neonatais e a permanência nesses ambientes pode favorecer o acometimento de infecções. O leite humano possui fatores de proteção capazes de combater essas infecções, uma vez que o alimento possui milhões de células, incluindo vários tipos de células de defesa, que se modificam para combater determinada infecção no organismo da criança.
Amamentação deve ser incentivada durante todo o ano – Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF
É por isso que o leite humano é considerado uma vacina no organismo da criança. O equilíbrio perfeito de gorduras, carboidratos e proteínas na medida exata para fortalecer o sistema imunológico do bebê, beneficiando o seu crescimento saudável.
Prematuridade e amamentação
Inicialmente, os bebês prematuros precisam de soro para manter os níveis de glicose adequados e recebem o leite materno através de sonda colocada na boca até o estômago. Na UTI, o recém-nascido muito pequeno não é alimentado via oral. Usa-se sonda pela boca ou nariz e, dependendo de suas condições, pode demorar para que ele aprenda a sugar – esse reflexo costuma se firmar com 34 semanas.
Geralmente, a partir da 34ª semana de idade gestacional o bebê desenvolve capacidade de coordenar os movimentos de sucção e deglutição. Nesses casos, o bebê já consegue sugar o seio materno e o soro é desconsiderado.
De acordo com a Referência Técnica Distrital (RTD) de pediatria, Julliana Tenorio Macêdo, mesmo através de uma sonda nasogástrica, a alimentação com o leite produzido pela mãe deve ocorrer.
“É essencial que a mulher seja orientada a tirar o leite para alimentar seu filho, mesmo enquanto ele está com a sonda. À medida que o bebê cresce, pode começar a tentar sugar no seio. Não é fácil, mas extremamente importante. O bebê geralmente é mais sonolento e precisa ser estimulado para amamentar”, explica.
Taís Ferreira teve o bebê no Hospital Regional de Sobradinho – Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF
Por esse motivo, a intervenção de fonoaudiólogos é fundamental nessa fase para que o recém-nascido aprenda a respirar, sugar e deglutir o leite. Embora os bebês a partir de 34 semanas sejam capazes de exercer as duas funções, é uma tarefa cansativa. Com a ajuda fonoaudiológica, o recém-nascido adquire habilidades motoras orais para se alimentar sem a ajuda de sondas, sugando diretamente o seio materno.
A fonoaudióloga Maria Rebeca de Carvalho Porto explica como são realizados esses atendimentos. “Dependendo da situação clínica do bebê, a equipe de fonoaudiologia auxilia de forma direta e indireta no processo de aprendizagem e coordenação dos movimentos entre a sucção, respiração e deglutição. A criança precisa estar estável e com boa saturação para ter a capacidade de conseguir ir até o seio materno. A equipe, além de fazer um conjunto de estimulações na criança, atua também no acolhimento da mãe para incentivar esse aleitamento materno, tendo em vista que é o melhor para o bebê”, pondera.
Paciente da rede pública de saúde, Taís Ferreira, de 32 anos, teve gestação gemelar e os bebês nasceram com 31 semanas. Mesmo com a prematuridade das crianças, ela conta que não teve grandes dificuldades para os bebês pegarem a mama.
“Tive dois bebês prematuros com pouco mais de 1 quilo cada. O Gael conseguiu pegar no peito com uma semana de vida e a Cecília com 14 dias. A ajuda da equipe multiprofissional do hospital foi essencial para que meus bebês conseguissem sugar a mama. Estamos muito felizes e aguardando a hora de voltar para casa”, relata.
Bancos de Leite
Para garantir o acesso ao alimento, especialmente para os bebês cujas mães têm dificuldade na produção, ou que estão internados em UTIs, existem os Bancos de Leite Humano. No Distrito Federal são dez em funcionamento, além de três postos de coleta de leite. Até o mês de julho, foram arrecadados 10.889,7 litros de leite. Em 2020, no mesmo período foram arrecadados 17.976,1 litros de leite.
A coordenadora das Políticas de Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano do DF, e médica pediatra, Miriam Santos, fala da importância do leite materno para o desenvolvimento de crianças prematuras e faz um convite às mães que estão amamentando e que estejam dispostas a tornarem-se possíveis doadoras.
“A criança prematura tem necessidades específicas que somente o leite materno pode suprir, por estarem num ambiente de UTI, ficam mais suscetíveis a infecções, e o leite humano torna-se ainda mais indispensável para eles”, explica a pediatra que faz um apelo às mães que estão amamentando.
“Mães que estão com seus filhos na UTI desenvolvem muito mais estresse, o que pode contribuir para que o leite seque. Em outros casos, nessa pandemia, muitas mães encontram-se internadas e impossibilitadas de amamentar seus bebês, e a doação torna-se cada dia mais essencial, para que o nosso estoque de leite seja suficiente para suprir cada uma dessas necessidades”, ressalta.
Se você está amamentado e deseja tornar-se uma doadora, basta entrar em contato com a Secretaria de Saúde no número 160, opção 4, ou pelo site Amamenta Brasília. Após o agendamento, uma equipe do Corpo de Bombeiros irá até a residência da doadora para fazer a retirada.
Fonte: https://www.saude.df.gov.br