Artigo de cientista brasileira é capa de revista norte-americana de neurologia
Resultado de estudo feito com mais de três mil pacientes com a Doença de Alzheimer, a publicação foi destaque da revista Neurology
Bruna Bellaver, farmacêutica, mestre e doutora em Bioquímica, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), faz seu pós-doutorado no laboratório de neuroimagem Zimmer Lab, com bolsa do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) da CAPES. Seu artigo ‘Biomarcadores Astrocitários na doença de Alzheimer: uma revisão sistemática e meta-análise’ foi escolhido como capa da edição de junho da revista Neurology, editada pela Academia Americana de Neurologia e o periódico da área mais lido no mundo.
Fale sobre a sua área de atuação.
Atualmente, no laboratório Zimmer Lab, com a coordenação de Eduardo Zimmer, estou me dedicando ao estudo da funcionalidade de um tipo celular muito importante para a manutenção de funções fundamentais do nosso cérebro: os astrócitos. Estudamos essas células principalmente no contexto de neurodegeneração, especialmente da Doença de Alzheimer (DA), para entender como esse processo acontece e como podemos identificá-lo para que se possa, no futuro, desenvolver intervenções com o intuito de combater ou retardar o processo neurodegenerativo.
Fale um pouco sobre o artigo publicado na Neurology.
Há algum tempo debate-se o potencial papel dos astrócitos como biomarcadores para o diagnóstico da Doença de Alzheimer (DA), uma vez que é sabido que essas células produzem proteínas que vazam, ou são liberadas, para o sangue e líquido cefalorraquidiano de pacientes durante o curso da doença. Mas os trabalhos disponíveis na literatura sobre o assunto eram, muitas vezes, controversos e apresentavam metodologia muito variável e de difícil comparação, o que dificultava um consenso em relação ao assunto. Observamos essa lacuna no campo e decidimos realizar uma meta-análise desses dados que nos permitiria, então, comparar todos os trabalhos já publicados sobre o tema e, finalmente, identificar uma resposta para essa pergunta. O desenvolvimento desse trabalho se deu todo durante a pandemia do SARS-CoV-2. Meu trabalho sempre foi majoritariamente na bancada e com o fechamento do laboratório – devido à pandemia, em março de 2020, sem previsão de retorno – precisei dar um novo rumo e reinventar a forma como vinha trabalhando. Foi um momento desafiador, mas que culminou em uma resposta para uma pergunta tão importante para esse campo de pesquisa.
Como foi o desenvolvimento do trabalho?
Realizamos a análise de 3.204 pacientes com a Doença de Alzheimer (DA), distribuídos em 33 estudos científicos, e identificamos três proteínas presentes em maior quantidade em pacientes com a DA do que em indivíduos saudáveis, evidenciando seu potencial uso no diagnóstico da doença. Esse trabalho contou com a contribuição de pesquisadores internacionais das Universidades McGill (Canadá), de Poitiers (França) e Cambridge (Reino Unido), além do Instituto Karolinska (Suécia).
Quais são os próximos passos?
O estudo de biomarcadores para a DA é um dos principais focos em nosso grupo de pesquisa. Eu estou diretamente envolvida em dois grandes projetos dessa linha. O primeiro visa agora entender se a liberação aumentada desses biomarcadores astrocitários é específica para a DA ou se é um processo comum a outras doenças neurológicas. Identificar marcadores específicos para determinada doença neurológica é de fundamental importância para o correto diagnóstico (que atualmente é apenas clínico) e posterior manejo da doença. O segundo busca identificar novos biomarcadores astrocitários que possam ser detectados precocemente, antes do início da perda cognitiva. Identificar biomarcadores nesse estágio nos permitiria o diagnóstico precoce da doença e a busca por terapias que possam prevenir o desenvolvimento da DA.
Como seu trabalho pode contribuir para a melhoria da vida das pessoas?
A Doença de Alzheimer afeta milhões de pessoas no mundo. Não só as que de fato são acometidas pela doença, mas também os familiares que sofrem uma carga emocional muito grande. Identificar novos biomarcadores para a DA tem o potencial de permitir o diagnóstico precoce, identificar novos alvos medicamentosos e até mesmo indicar a resposta do paciente a um determinado tratamento.
Como foi o processo até a escolha do artigo para publicação na revista?
O processo de publicação de artigos científicos é longo e trabalhoso. Nós iniciamos esse trabalho em março 2020, com quatro pessoas trabalhando quase que exclusivamente nesse projeto. A revista Neurology tem um processo de revisão por pares bastante rápido, e em janeiro de 2021 já recebemos uma resposta, requisitando algumas alterações. Mais algumas atualizações foram realizadas e novos dados analisados e incluídos no manuscrito. Após envio para a revista o artigo foi aceito para publicação em Março, e publicado na edição de 15 de junho de 2021. No total, o processo de início do trabalho até a publicação na revista levou mais de um ano. Em maio recebemos a notícia que nosso trabalho tinha sido escolhido para a seção In focus do periódico, que reúne os artigos em destaque da edição escolhidos pelo editor. Para isso precisamos elaborar um resumo do trabalho e uma nova figura que representasse o artigo. A escolha do trabalho para ser capa da edição foi uma agradável surpresa, quando abrimos o site, ele estava lá, sem aviso prévio.
Qual a importância do apoio da CAPES para o seu trabalho?
O apoio da CAPES é fundamental para que eu consiga desenvolver a minha pesquisa. Além de diversos projetos do laboratório serem financiados pela CAPES, eu atualmente sou bolsista PNPD, o que permite que eu continue me dedicando em tempo integral à pesquisa científica, um caminho que eu venho construindo nos últimos 12 anos. Já fui bolsista do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE) pelo período de um ano, quando estudei parte do meu doutorado na University of Pennsylvania, na Filadélfia (EUA).
Assessoria de Comunicação Social do MEC com informações da CAPES
Fonte: https://www.gov.br/mec