Brasil tem o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo
Doação de medula óssea é um gesto de empatia e solidariedade que salva vidas
“Esse aí tem tutano!” Você já ouviu essa expressão alguma vez? Na linguagem e sabedoria do povo, ter tutano é ter coragem, força e inteligência, é ser muito capaz. Na linguagem da vida, tais características aliadas a outras como empatia, altruísmo, espírito solidário e generosidade, fazem parte do perfil de quem se dispõe a doar a esperança, a possibilidade da sobrevivência, da cura e de um recomeço para muitas pessoas. É justamente isso que fazem os doadores de medula óssea, tecido encontrado no interior dos ossos e popularmente conhecido, por coincidência, como tutano. E nada mais justo que neste sábado (18), quando é celebrado o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea, o Ministério da Saúde traga uma matéria especial com muita informação para apoiar a causa e conscientizar a população. Doar medula óssea nada mais é que doar vida em vida.
E é exatamente assim que as linguagens se encontram. A linguagem literal e a linguagem do amor se entrelaçam muitas vezes e nesse caso formam uma parceria potente. Com esse gesto, o doador de medula óssea está transfundindo a coragem tão necessária a quem precisa de toda a força e capacidade para enfrentar os desafios impostos pelas várias doenças que demandam o transplante de medula como único tratamento e como última esperança. Entre elas, as caracterizadas pela produção anormal de células sanguíneas, geralmente causada por algum tipo de câncer no sangue como leucemias e linfomas, além de portadores de aplasia medular ou deficiências no sistema imunológico.
Um desses casos é o do empresário Higor Jaime Siqueira, de 28 anos, que voltou à vida após passar por um transplante de medula óssea. Ainda criança, aos oito anos de idade, ele foi diagnosticado com aplasia da medula óssea. Por 16 anos fez tratamento, até que encontrou um doador compatível. “Encontramos dentro do banco de doadores, que foi essencial para meu processo de cura, uma doadora. Não pude conhecê-la, mas sou muito grato a todo o processo e a toda a equipe”, disse o empresário. “Fiz o transplante em Jaú, São Paulo. Hoje sou muito feliz por esse processo. Não tomo nenhum medicamento e sou totalmente saudável graças à doação e toda a equipe, todo esse grupo de pessoas que estão em prol da cura”, acrescentou Siqueira.
Para o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea é um justo reconhecimento a todos que fazem de suas vidas a extensão da vida de tantos outros. Para que vidas continuem sendo salvas é necessário que os doadores mantenham seus cadastros atualizados. A data foi criada pela World Marrow Donor Association (WMDA), que reúne os registros de doadores de medula de 52 países e soma quase 40 milhões de doadores cadastrados. Além de destacar a necessidade da doação de medula óssea, a data também tem como objetivo lembrar aos voluntários já cadastrados a importância de se manter os dados atualizados, para facilitar a localização do possível doador. “Os doadores com dados atualizados são encontrados mais rapidamente, o que é fundamental no transplante que, para a maioria dos pacientes, deve ser realizado com muita urgência. Deste modo, com um simples gesto, nossos doadores reforçam seu compromisso de ajudar pacientes no Brasil e em outros países”, destacou Queiroga.
Os Hemocentros Regionais, mais conhecidos como Bancos de Sangue Públicos, são responsáveis por cadastrar os interessados em se tornar doadores de medula óssea. Os dados são agrupados em um registro único e nacional. Um indivíduo pode ser voluntário para a doação de sangue, doação de medula ou de ambos. Atualmente existem 5.419.941 de doadores cadastrados no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo. O Redome pertence ao Ministério da Saúde e é o maior banco com financiamento exclusivamente público. Com esse quantitativo, o Redome consegue suprir mais de 90% da necessidade brasileira, contemplando praticamente toda a diversidade genética nacional. Caso um doador não seja identificado no Redome, ainda está disponível a busca internacional de doadores nos maiores registros mundiais, com financiamento totalmente do Sistema Único de Saúde (SUS). Anualmente, são incluídos mais de 300 mil novos doadores no cadastro.
O processo de busca do doador é simples e totalmente informatizado. O médico responsável inscreve as informações do paciente que precisa do transplante de medula óssea, incluindo o resultado do exame de histocompatibilidade – HLA (exame que identifica as características genéticas de cada indivíduo), no sistema do Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (REREME). Após aprovação da inscrição do paciente, a busca é iniciada imediatamente. Caso os dados estejam incompletos e a inscrição necessite de esclarecimentos, o processo de busca não se inicia, cabendo ao médico assistente a inclusão dos dados do paciente.
Para aumentar as chances de localização de um doador compatível para um paciente que necessita do transplante, é imprescindível manter o cadastro no Redome atualizado. O doador deve lembrar que irá permanecer no registro até completar 60 anos de idade e que a convocação para realizar a doação pode demorar alguns anos ou nem chegar a acontecer. Por isso, o doador deve informar sempre que houver alteração em qualquer dado do cadastro (endereço, telefone etc). Esta informação pode ser encaminhada pelo site do Redome ou por meio do Hemocentro que o cadastrou.
COMO DOAR?
O transplante de medula óssea é uma modalidade de tratamento indicada para doenças relacionadas com a fabricação de células do sangue e com deficiências no sistema imunológico. Atualmente, existem 107 hemocentros e 100 centros para transplantes de medula óssea distribuídos por todo o Brasil.
Quando não há um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução para o transplante é procurar um doador compatível entre indivíduos, não familiares, na população regional ou mundial, que representem os diversos grupos étnicos (brancos, negros, amarelos etc.) e sua miscigenação. O Redome reúne todos os dados dos voluntários, como nome, endereço, resultados de exames e características genéticas.
Sempre que potenciais doadores compatíveis são identificados, a equipe Redome entra em contato para confirmar a vontade e a disponibilidade destes realizarem a doação. A informação é logo transmitida ao médico do paciente inscrito na busca de um doador e este, junto com a equipe do Redome, analisa as melhores possibilidades, faz a escolha e é dado início aos procedimentos de seleção. Os doadores são, então, convocados a realizar os testes confirmatórios e a avaliação clínica. A retirada das células para a doação é feita em um hospital habilitado, o mais próximo possível da residência do doador. Assim que retiradas, as células são transportadas até o centro onde o será feito o transplante.
O Redome atua articulado aos cadastros de todo o mundo. Atualmente, a busca por doadores para pacientes brasileiros é realizada simultaneamente no Brasil e no exterior. Os bancos internacionais também acessam os dados dos candidatos a doadores a partir de sistemas especializados. O registro brasileiro foi o que mais cresceu na última década. A chance de se identificar um doador compatível, no Brasil, na fase preliminar da busca é de até 88%, e ao final do processo, 64% dos pacientes têm um doador compatível confirmado.
Para se tornar um doador de medula óssea é necessário:
– Ter entre 18 e 35 anos de idade;
– Estar em bom estado geral de saúde;
– Não ter doença infecciosa ou incapacitante;
– Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico;
Importante lembrar que algumas complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisado caso a caso.
Fonte: https://www.gov.br/saude