Covid-19: Boletim aponta progressão do rejuvenescimento da pandemia
Publicado nesta sexta-feira (23/4), o Boletim do Observatório Fiocruz Covid-19 referente às semanas 14 e 15, período de 4 a 17 de abril, apresenta um painel geral do cenário da Covid-19 no país e suas implicações. O estudo, com base em comparações entre as semanas epidemiológicas 14 e 15, constata o processo de rejuvenescimento da pandemia. Os números de casos e óbitos de Covid-19 por faixa etária mostram que o aumento diferencial por idades se manteve. A análise aponta que a faixa etária dos mais jovens, de 20 a 29 anos, foi a que registrou maior aumento no número de mortes por Covid: 1.081,82%. Nas idades de 40 a 49 anos (1.173,75%) houve o maior crescimento do número de casos.
O Boletim também traz análises e dados sobre rejuvenescimento da pandemia no Brasil, leitos para Covid-19, Síndromes Respiratórias Graves, níveis de atividade e incidência, perfil demográfico, vacinação, renda, trabalho e impactos sociais, entre outros. A partir desses indicadores, aponta caminhos para o enfrentamento da pandemia.
O aumento global, para todas as idades, entre a SE 1 e a SE 14, foi de 642,80%. Algumas faixas etárias mantiveram crescimento superior ao global: 20 a 29 anos (745,67%), 30 a 39 anos (1.103,49%), 40 a 49 anos (1.173,75%), 50 a 59 anos (1.082,69%) e 60 a 69 anos (747,65%). Para os óbitos, o aumento global foi de 429,47%. As mesmas faixas etárias tiveram aumento diferenciado: 20 a 29 anos (1.081,82%), 30 a 39 anos (818,60%), 40 a 49 anos (933,33%), 50 a 59 anos (845,21%) e 60 a 69 anos (571,52%).
Quanto à internação em unidades de Terapia Intensiva (UTI), ainda comparando as SE 1 e SE 14, a ocupação destes leitos foi bastante diferenciada ao longo das semanas. Na SE um, a proporção de pacientes com menos de 70 anos internadas em leitos de UTI foi de 52,74%. Na SE 14, esta proporção foi de 72,11%. Estes números, segundo a investigação, sugerem que a ocupação dos leitos de UTI por população menos longeva tem aumentado.
Leitos de UTI para Covid-19
As taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS em diversos estados se mantêm, em geral, em níveis muito elevados. Dados obtidos em 19 de abril, em comparação aos do último dia 12, indicam a saída do Amapá de zona de alerta crítico para zona de alerta intermediário, na qual já se encontravam Amazonas, Maranhão e Paraíba. Exceto por Roraima, fora de zona de alerta, os demais estados e o Distrito Federal permaneceram em zona de alerta crítico.
Destacaram-se, ou pela magnitude, ou pela consistência da tendência de queda, reduções no Amazonas (73% para 69%), Roraima (44% para 38%), Pará (82% para 80%), Amapá (84% para 68%), Rio Grande do Norte (98% para 93%), Paraíba (70% para 63%), Alagoas (88% para 83%), Bahia (84% para 82%), Minas Gerais (91% para 89%), Espírito Santo (95% para 91%), Rio de Janeiro (90% para 86%), São Paulo (86% para 83%), Rio Grande do Sul (88% para 83%) e Goiás (96% para 90%).
Catorze estados e o Distrito Federal encontram-se com taxas de ocupação superiores a 90%: Rondônia (94%), Acre (94%), Tocantins (93%), Piauí (94%), Ceará (98%), Rio Grande do Norte (93%), Pernambuco (97%), Sergipe (97%), Espírito Santo (91%), Paraná (94%), Santa Catarina (97%), Mato Grosso do Sul (100%), Mato Grosso (96%), Goiás (90%) e Distrito Federal (98%). Sete apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos entre 80% e 89%: Pará (80%), Alagoas (83%), Bahia (82%), Minas Gerais (89%), Rio de Janeiro (86%), São Paulo (83%) e Rio Grande do Sul (83%). Por fim, quatro estados apresentam taxas entre 63% e 78% – Amazonas (73%), Amapá (68%), Maranhão (78%) e Paraíba (63%) – e um (Roraima), taxa de 38%.
Casos e óbitos por Covid-19
Nas Semanas Epidemiológicas 14 e 15 (4 a 17 de abril), a quase totalidade dos estados apresentou estabilidade dos indicadores, com exceção de Roraima, onde foi verificada nova alta tanto no número de casos quanto de óbitos. No Amapá houve uma pequena redução no número de casos.
As maiores taxas de incidência de Covid-19 foram observadas nos estados de Rondônia, Amapá, Tocantins, Ceará, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, e no Distrito Federal. Taxas de mortalidade elevadas foram verificadas nos estados do Rondônia, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal. Esse padrão mantém as regiões Sul e Centro-Oeste como críticas para as próximas semanas, o que pode ser agravado pela saturação do sistema de saúde nesses estados.
Rio de Janeiro (8,3%), Paraná (6,2%), Distrito Federal (5,3%), Goiás (5,2%) e São Paulo (5,1%) apresentaram as maiores taxas de letalidade. De acordo com os pesquisadores, os valores elevados de letalidade revelam graves falhas no sistema de atenção e vigilância em saúde nesses estados, como a insuficiência de testes diagnóstico, identificação de grupos vulneráveis e encaminhamento de doentes graves.
Sindromes Respiratório Agudas Graves
A análise constata que as incidências de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG), outro indicador estratégico, se encontram em níveis de estabilidade em muitos estados ou em redução. No entanto, ainda em níveis muito altos. Cerca de 90% dos casos de SRAG são devido a infecções por Sars-CoV-2.
Dezenove estados e o Distrito Federal apresentam taxas de incidência muito elevadas, acima de 10 casos por 100 mil habitantes: Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás. Nos demais estados, as taxas de incidência se encontram muito altas, superiores a um caso por 100 mil habitantes.
Os estados com níveis altos e estáveis de SRAG são principalmente das regiões Sul e Nordeste. Em particular, Recife apresenta tendência de aumento, observando-se a média móvel nas últimas três semanas epidemiológicas. Os pesquisadores alertam que “estabilidades em níveis elevados não são desejáveis porque os leitos hospitalares ainda permanecem com ocupação alta”.
Renda e trabalho durante a pandemia
Outro tema fundamental para mitigar as consequências da pandemia, abordado no Boletim, é “Renda e trabalho durante a pandemia”. Com base em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os pesquisadores apontam que, desde abril de 2020, a maioria das pessoas com 14 anos ou mais não tem uma ocupação no mercado de trabalho, ainda que informal e por apenas uma hora semanal ou mesmo em afastamento temporário. Fato inédito na história estatística do país, que persiste até o início de 2021 na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Os pesquisadores também apontam também para os importantes impactos do Auxílio Emergencial sobre a renda e mesmo o aquecimento de economias locais e atração de mais pessoas a oportunidades de trabalho. Também destacam que mesmo com o Auxílio Emergencial persistem ainda muitas faces da vulnerabilidade. Citam dois exemplos. Primeiro, a elevada proporção de Insegurança Alimentar moderada/grave no país, principalmente nos domicílios em que as pessoas entrevistadas solicitaram e receberam parcelas do auxílio, sendo 2,8 vezes superior à proporção média nacional. Em segundo lugar, o excesso de mortalidade entre os empregados formais que não puderam ficar em casa em nenhum momento, como frentistas, caixas de supermercado, motoristas de ônibus, vigilantes e terceirizados que monitoram a temperatura das pessoas que entram nos shoppings centers. Ressaltam a importância de um plano nacional de recuperação econômica como uma das formas de enfrentamento dos determinantes sociais da saúde, de modo a incluir o aumento da oferta de emprego e renda no médio e longo prazo, evitando que os impactos sociais da Covid-19 se prolonguem por anos após o seu término.
Estes dados apontam que além do AE, importante medida para aliviar o agravamento dos impactos da pandemia para os mais vulneráveis, qualquer plano nacional de recuperação econômica deverá necessariamente aumentar a oferta de emprego e renda no médio e longo prazo, evitando que os impactos sociais da Covid-19 se prolonguem por anos após o seu término.
“As transferências do auxílio emergencial frearam um pouco as perdas, elevaram em mais de R$ 130 a média nos meses de maio a setembro. Porém, sua força esmoreceu de outubro em diante, quando os valores dos benefícios caíram pela metade”.
Fonte: https://portal.fiocruz.br