Covid-19: manifestações persistem após um ano em cerca de 40% dos indivíduos, aponta estudo
Pesquisa financiada pelo MCTI está acompanhando cerca de 300 voluntários há dois anos
Dados parciais de um estudo conduzido com 300 voluntários, acima de 18 anos, que tiveram Covid-19, em diferentes graus de gravidade, mostraram que, após um ano, os pacientes apresentam manifestações tardias da doença no sistema respiratório. A pesquisa ‘Avaliação do impacto no aparelho respiratório a longo prazo no âmbito da Covid-19: um estudo de coorte’ é financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) por meio da Chamada Pública MCTI/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit nº 07/2020 – “Pesquisas para enfrentamento da Covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves”. O objetivo é identificar as repercussões da doença sobre o aparelho respiratório, e seu comportamento a longo prazo, em pacientes diagnosticados com a doença nas formas leve, moderada e crítica.
“Para se ter uma ideia, é da ordem de quase 40% o número de indivíduos que apresentam alguma dificuldade de subir uma escada de dez degraus, por exemplo. Isso é muito”, afirma Rosemeri Maurici da Silva, que coordena o estudo.
A pneumologista, que também é responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Asma e Inflamação das Vias Aéreas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenou a Comissão de Infecções Respiratórias e Micoses da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, explica que embora haja uma tendência de os pacientes mais graves, aqueles que precisaram de UTI e/ou ventilação mecânica, apresentarem um comprometimento maior, manifestações tardias foram identificadas de maneira quase que equivalente entre os pacientes com diferentes graus de gravidade da doença.
“Tanto os pacientes com a forma leve, que foi tratada em ambulatório; moderada que ficaram internados no hospital; ou crítica que precisaram de UTI, de serem intubados, de ventilação mecânica, praticamente todos apresentam manifestação tardia da doença no aparelho respiratório”, relata a pesquisadora. Há outras manifestações em atividades rotineiras, como carregar uma sacola com compras”.
O estudo multicêntrico e observacional é realizado desde 2020 com 300 participantes de três cidades: Salvador (BA), Florianópolis (SC) e Santa Maria (RS). Os dados parciais aos quais a coordenadora se refere são relativos ao grupo catarinense, que acompanha 140 participantes. Mesmo assim, Rosemeri afirma que os resultados parciais são similares aos demais grupos.
Até o momento, cada participante recebeu pelo menos três visitas dos pesquisadores, sendo a primeira 30 dias após a alta da internação; a segunda seis meses depois; e a terceira com um ano. A quarta visita, agendada para dois anos após a alta, encontra-se em fase de execução.
Os participantes da pesquisa passaram por baterias de testes físicos, para avaliar a capacidade funcional, e exames como tomografia computadorizada, para correlacionar as alterações de prova pulmonar, e ecocardiograma, para avaliar a parte cardiovascular. Além disso, foram submetidos aos exames complementares para provas pulmonares: espirometria, que avalia a quantidade e o fluxo de ar nos pulmões, e de antropometria Pletismografia (Peak Flow), cuja finalidade é aferir a capacidade do pulmão em difundir oxigênio para o sangue, ou seja, mede quanto do oxigênio que a pessoa respira é aproveitado.
“Em um ano, praticamente 50% dos pacientes ainda apresentam comprometimento dessa passagem do oxigênio”, afirma Rosemeri. “Isso impacta na execução de atividades da vida diária. Quem não tem uma oxigenação boa não consegue fazer exercício, trabalhar a contento”, complementa.
Em pacientes acima de 65 anos, que tiveram a forma grave da doença, e que apresentam comorbidades associadas, como obesidade e diabetes, o quadro é mais preocupante por conta das repercussões. A pesquisadora prefere essa denominação por serem quadros que ainda permitem reversão. Os pacientes que continuarem a apresentar tais sintomas após dois anos poderão ser considerados sequelas e demandarão acompanhamento dos serviços de saúde.
“Mesmo que a maioria deles recupere a funcionalidade, um grande percentual tem limitações. São pacientes que podem perder capacidade laborativa. Eles vão demandar assistência médica. Esses resultados acabam subsidiando as decisões de políticas públicas. [O sistema de saúde] tem que estar preparado para reabilitar, recondicionar e tratar esses pacientes”, avalia a coordenadora.
É por isso que a professora alerta para a necessidade de os sistemas de saúde estarem preparados para realizar o diagnóstico desses pacientes e, principalmente para que os pacientes que tiveram Covid-19, mesmo nas formas leves e moderada, façam avaliação especializada pós-doença.
Os participantes da pesquisa receberam orientações e, quando necessário, foram encaminhados para atividades de fisioterapia e de atividades físicas orientadas em um projeto interdisciplinar paralelo. A pesquisa vai acompanhar os participantes por mais dois anos, agora por telefone.
Recursos Humanos – O projeto também contribuiu com a formação de recursos humanos especializados. Foram quatro teses de doutorado, três de mestrado e um aluno de graduação. Além de ter contribuído para o desenho de outro projeto sobre acompanhamento físico. A professora foi convidada para apresentar o detalhamento dos resultados à comunidade de especialistas no Congresso Brasileiro de Pneumologia, que será realizado em outubro. Além disso, o trabalho foi objeto de artigos submetidos a publicações indexadas e os resultados preliminares também serão apresentados no Congresso Internacional de Fisioterapia.
Investimentos – A Chamada Pública MCTI/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit nº 07/2020 – Pesquisas para enfrentamento da Covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves direcionou esforços científicos para o enfrentamento da pandemia. Recentemente os 116 projetos apresentaram os resultados parciais no terceiro seminário de avaliação. Os projetos contemplados estão relacionados aos temas: Tratamento, Vacinas, Diagnóstico, Patogênese e História Natural da Doença, Carga de Doença, Atenção à Saúde e Prevenção e Controle. No total, foram investidos mais de R$ 65 milhões, sendo mais R$ 45 milhões provenientes do MCTI. A previsão é que os projetos se encerrem no final deste ano.
Fonte: https://www.gov.br/mcti