Fiocruz investiga possibilidade de transmissão da varíola dos macacos por superfícies
Principal forma de transmissão da monkeypox é por meio do contato direto pessoa a pessoa, chamado de pele a pele
A principal forma de transmissão da varíola dos macacos, doença também conhecida como monkeypox, ocorre por meio do contato direto pessoa a pessoa, chamado de pele a pele.
A transmissão pode acontecer a partir do contato direto com lesões cutâneas, crostas ou fluidos corporais de uma pessoa infectada, pelo toque em objetos, tecidos (roupas, lençóis ou toalhas) e superfícies que foram usadas por alguém com a doença, além do contato com secreções respiratórias.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) investiga a possível infecção de profissionais da saúde por contato com superfícies contaminadas pelo vírus monkeypox. O artigo, que será publicado na edição de dezembro da revista científica Emerging Infectius Diseases, sinaliza os cuidados adicionais a serem adotados na prevenção do contágio.
O Brasil tem 8.543 casos confirmados e 4.760 casos suspeitos de varíola dos macacos, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde na quarta-feira (12).
O que diz o estudo
Os pesquisadores da Fiocruz reportam o caso de duas enfermeiras que desenvolveram a doença cinco dias após atender um paciente em casa para coleta de material e diagnóstico de monkeypox.
Os cuidados adotados nesse atendimento são descritos em detalhes, apontando que elas utilizaram todo equipamento de proteção – exceto as luvas – enquanto estavam no período inicial de entrevista, no quarto do paciente. O item de proteção só foi colocado no momento da coleta, após elas esterilizarem as mãos.
Além da Fiocruz Pernambuco e do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (Cevs/SES-RS), participaram da investigação três universidades gaúchas e o Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine – National Reference Center for Tropical Infectious Diseases, de Hamburgo, na Alemanha. O pesquisador da Fiocruz Pernambuco Gabriel Wallau conduziu o estudo ao lado do especialista em saúde do Cevs, Richard Steiner Salvato.
A conclusão dos autores é que as enfermeiras podem ter se infectado pelo contato com superfícies contaminadas da casa do paciente, que se encontrava no pico de transmissão viral. Ou ainda, ao manusear a caixa de transporte das amostras, de início com as luvas (infectadas) e posteriormente sem luvas.
Os especialistas argumentam que os resultados encontrados podem ser utilizados como referência para a adoção de melhores práticas ao lidar com pacientes infectados com varíola dos macacos. Os autores recomendam medidas de prevenção e bloqueio dessa rota de transmissão, que envolvem treinamento específico para essa coleta, implementação de medidas de controle, higienização frequente das mãos e utilização correta de Equipamento de proteção individual (EPIs).
O uso das luvas é recomendado durante todo o período de visita a pacientes, contato com pessoas suspeitas de estarem infectadas e com seu ambiente ou objetos de uso pessoal. A higienização das superfícies com desinfetante também é recomendada antes e depois da interação com casos suspeitos. Os especialistas preconizam ainda a vacinação dos grupos de alto risco, incluindo os profissionais de saúde que atuam na linha de frente dessa doença.
“Trazer à luz esse evento de transmissão por meio de superfície é importante para aprimorar as recomendações públicas voltadas para a proteção tanto dos profissionais de saúde que lidam diretamente com esses pacientes, como dos familiares e outras pessoas envolvidas nesse cuidado”, diz Wallau, em comunicado.
Prevenção
De acordo com o Ministério da Saúde, uma pessoa pode transmitir a doença desde o momento em que os sintomas começam, como a erupção cutânea, que são as feridas na pele, febre, dores no corpo e na cabeça, aumento dos gânglios – ou ínguas, calafrios e fraqueza. O período de transmissão ocorre até que as lesões cicatrizem completamente e uma nova camada de pele se forme.
O ministério recomenda que todas as pessoas com sintomas compatíveis de varíola dos macacos devem procurar atendimento médico imediatamente e adotar as medidas de isolamento recomendadas. O diagnóstico é realizado de forma laboratorial, por teste molecular ou sequenciamento genético. As amostras são direcionadas para oito laboratórios de referência no Brasil.
A varíola dos macacos, na maioria dos casos, evolui sem complicações e os sinais e sintomas duram de duas a quatro semanas. As manifestações clínicas habitualmente incluem lesões na pele na forma de bolhas ou feridas que podem aparecer em diversas partes do corpo, como rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais. No entanto, o surto atual da doença tem apresentado características epidemiológicas diferentes, com sintomas que podem ser bastante discretos.
Na forma mais comum documentada da doença, os sintomas podem surgir a partir do sétimo dia com uma febre súbita e intensa. São comuns sinais como dor de cabeça, náusea, exaustão, cansaço e principalmente o aparecimento de inchaço de gânglios, que pode acontecer tanto no pescoço e na região axilar como na parte genital.
Já a manifestação na pele ocorre entre um e três dias após os sintomas iniciais. Os sinais passam por diferentes estágios: mácula (pequenas manchas), pápula (feridas pequenas semelhantes a espinhas), vesícula (pequenas bolhas), pústula (bolha com a presença de pus) e crosta (que são as cascas de cicatrização).
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br