Harvard realiza estudo que pode ser inovador no tratamento do câncer
Laura Testa explica que o medicamento em estudo estimula o sistema imunológico a produzir defesas, assim como uma vacina tradicional, mas as pesquisas ainda estão em fase inicial
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar de hoje (16), a médica responsável pelo Grupo de Oncologia Mamária do Instituto do Câncer do Estado de SP (Icesp), Laura Testa, trouxe as novidades de um estudo de Harvard inovador no tratamento de câncer. A pesquisa vem sendo chamada de vacina implantável, juntando quimioterapia com uma molécula que estimula os linfócitos a guardarem memória de reconhecimento e de combate à doença. Após testes iniciais em camundongos, foram encontrados glóbulos brancos de memória, o que é um resultado promissor. Assim como em qualquer vacina, esse tratamento ensina o corpo a montar defesas contra o patógeno e a doença causada por ele.
O método atual de tratamento de câncer, chamado imunoterapia, também se baseia em fazer com que o sistema imune se defenda das doenças oncológicas ou tumores que tenham nascido. Laura destaca que não é um método simples, já que a célula do tumor que o sistema imune deve combater é uma célula do próprio corpo. O sistema imune encontra uma célula que tem características genéticas do próprio indivíduo e deve reconhecer que, nela, há mutações perigosas à saúde. A médica comenta que a imunoterapia já teve sucesso em casos de melanomas e cânceres de rim e pulmão.
Laura pontua que, no caso de câncer de mama, a imunoterapia ainda não é uma realidade. Há apenas um subtipo que teve resultados positivos com esse método, o tumor triplo negativo. Nesse caso, algumas pacientes tiveram sucesso ao tomar um medicamento que “tira a máscara do tumor para o sistema imune”, fazendo com que a célula tumoral se esconda e, posteriormente, o sistema imune é ativado para encontrar o tumor. Porém, a doutora diz que nem todas que têm esse subtipo de câncer têm resultados positivos com esse tratamento.
Quando a doença do câncer de mama se espalha para além da mama, é considerada uma doença metastática, situação em que é incurável. Em seus testes iniciais em animais, o tratamento desenvolvido por Harvard conseguiu ativar o sistema imune para combater as doenças metastáticas. Para Laura, “seria revolucionário” fazer com que ninguém tenha mais doenças metastáticas, tratando tanto quem já as desenvolveu quanto quem tem o tumor ainda em fases iniciais.
A médica aponta que, por mais que os primeiros resultados sejam promissores, a “vacina” de Harvard ainda não chegou nem à fase 1 de testes, a qual só se inicia quando começam os estudos em humanos. Nos humanos, as vacinas passam por três fases de testes até que sejam lançadas para uso da população. Laura também explica que a proposta do tratamento não é ser personalizada para o tipo de tumor de cada paciente, pois seria inviável economicamente. Na verdade, o tratamento de Harvard se propõe a utilizar um mesmo composto para todos, o qual permita que o sistema imune de cada um desenvolva a defesa necessária.
Fonte: https://jornal.usp.br/