MCTI: pesquisa vai estudar os efeitos da Covid-19 em profissionais da saúde e em pacientes com sequelas
Rede Covid-19 Humanidades MCTI retoma trabalho neste semestre; pesquisa sobre efeitos sociais de longo prazo da doença será efetuada em todas as cinco regiões do País
Os pesquisadores da Rede Covid-19 Humanidades MCTI voltarão ao trabalho de campo ainda no primeiro semestre deste ano para estudar os efeitos sociais de longo prazo da pandemia de Covid-19. Na segunda fase, estão entre os grupos de trabalho profissionais de saúde e pessoas que tiveram a doença e ficaram com sequelas. A pesquisa será efetuada com grupos em todas as cinco regiões do País em conjunto com instituições como Fiocruz, Universidade de Brasília (UNB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV). A rede é financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e faz parte da estratégia de enfrentamento à pandemia estabelecida pela pasta no início de 2020.
Financiada com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o objetivo da segunda fase é produzir pesquisas que analisem e respondam aos impactos sociais da pandemia de Covid-19 no Brasil, com foco na imunização, nos tratamentos e nas práticas e ambientes de cuidado e recuperação de afetados. Dessa forma, estima-se oferecer respostas à sociedade, aos tomadores de decisão e à comunidade científica sobre os impactos sociais. Serão cerca de 35 pesquisadores, incluindo cientistas que já atuam na interface com a área de saúde.
O coordenador da Rede e professor de antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jean Segata, explica que eliminar a circulação do vírus não significa extinguir os problemas que emergiram com a pandemia. “A cura não é resumida na ausência do vírus no corpo, os efeitos continuam no corpo”, afirma.
Segata recorda que na primeira fase da pesquisa, foi necessário compreender a pandemia para além do vírus, como as estruturas e materialidades sociais que facilitam o espalhamento, as situações de exposição e que provam o risco. “O vírus sozinho não faz uma pandemia. Precisa dessa infraestrutura que dê suporte e o potencialize”, ressalta o antropólogo. Os resultados parciais da primeira fase da pesquisa sobre os grupos de entregadores de comida e artistas não consagrados podem ser consultados aqui.
Agora, os pesquisadores irão, entre outras atribuições, identificar e descrever práticas e ambientes de cuidado e de recuperação de afetados e familiares de afetados pela Covid-19. Isso inclui o enlutamento, os traumas, as sequelas, a restauração de danos e a reorganização da vida cotidiana, profissional, educacional e econômica.
O professor carrega na bagagem a experiência de ter atuado em estudos semelhantes durante a epidemia de zika, um assunto que saiu da pauta de cobertura midiática, mas que permanece na vida dos afetados que estão com as sequelas e seus familiares. “A necessidade de atenção às pessoas continua. O problema das pessoas [afetadas pela Covid-19] não acabou. Como responder em termos de cuidados coletivos?”, sobre as respostas que precisarão ser geradas para subsidiar políticas públicas.
Ao analisar os impactos sociais da vacinação e os tratamentos pós-covid, os pesquisadores buscarão compreender a readequação do sistema de saúde para tratamentos continuados para atender quem teve Covid-19, ficou hospitalizado por longos períodos ou não, mas após a alta apresenta sequelas e, por isso, precisa do sistema para consulta, apoio, tratamento fisioterápico, psicológico medicamentoso, entre outras demandas.
O estudo terá interface com o instituto francês Pasteur. Por meio do convênio, além do intercâmbio de cientistas, a ideia é comparar as manifestações de Covid-19 longa sob as perspectivas dos profissionais de saúde e dos pacientes. O professor explica que houve várias fases na atuação dos profissionais de saúde, com remanejamentos para trabalhar na linha de frente, as reconfigurações hospitalares para atender a demanda por tratamento especializado e depois o pós-covid. “A linha de frente especializou profissionais em covid. E aos poucos os profissionais retomaram seus lugares”, explica.
Outra frente que deve ser objeto de estudo são as novas demandas sociais geradas pela pandemia, como os amputados, as viúvas, os órfãos, as pessoas que apresentam sequelas com problemas fisiológicos ou de mobilidade. Sobre a educação, Segata exemplifica que o mais recente vestibular da universidade na qual leciona apontou redução no número de candidatos por vaga. Cursos que, em geral, tinham 100 candidatos por vaga reduziram para 30, outros não chegaram a ter candidatos suficientes para preencher o número de vagas ofertadas.
“Há um contingente de demandas pós-vírus que pode ser sintetizado na frase: a pandemia termina mas os efeitos vão longe. Como será o processo de recuperação, a recolocação, a reconstrução das vidas enlutadas? Por quanto tempo vamos viver a pandemia indiretamente?”, questiona Segata.
Fonte: https://www.gov.br/mcti