Molécula sintética pode inibir a progressão da COVID-19
A pesquisa sugere que a molécula tem potencial de atenuar os sintomas da doença e reduzir a infecção causada pelo SARS-COV-2
Pedro Filho Noronha de Souza, doutor em bioquímica e bolsista da CAPES pelo Programa Pós-Doutorado em Bioquímica da Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolveu com colegas da mesma instituição, moléculas sintéticas com potencial aplicação no tratamento da COVID-19. O estudo mostra que elas podem atenuar os sintomas e reduzir a infecção causada pelo SARS-COV-2.
Fale sobre a sua pesquisa.
Nosso laboratório trabalha na busca de moléculas de origem vegetal, chamadas de peptídeos, a serem usadas como base para a produção de novas drogas para combater diferentes tipos de patógenos. Focamos desde sempre em doenças causadas por bactérias e fungos que são resistentes às formas de tratamento que nós conhecemos. Devido à pandemia e ao nosso conhecimento em virologia, nós testamos esses peptídeos contra o novo coronavírus, o SARS-COV-2.
Como foi realizado o estudo?
Nós começamos fazendo um uma avaliação da ação das nossas moléculas contra a spike, proteína-alvo do coronavírus. O estudo foi realizado in silico, que são simulações em computadores. As nossas moléculas se ligaram na spike. Dessa forma, o vírus não consegue entrar nas células. Se o vírus não entra na célula, uma vez que ele é um parasita e precisa da célula, ele vai então se tornar instável, se degradar, e não vai haver infecção. Se não tem infecção não desenvolve a doença.
O que os resultados mostraram?
Os resultados iniciais mostraram que os nossos peptídeos são capazes de bloquear a infecção de células saudáveis pelo coronavírus.
Como agiria esse medicamento?
Basicamente, o vírus entra pelo trato respiratório, infecta algumas células dos pulmões, e fica circulando na corrente sanguínea, podendo infectar outras células. A ideia é que as nossas moléculas estejam no individuo – na corrente sanguínea, por exemplo –, evitando que os vírus que estejam ali se liguem a novas células. Dessa forma, se restringe a infecção a apenas um ponto e o vírus não consegue se espalhar, de forma sistêmica, por todo o corpo do indivíduo. Com isso, esperamos atenuar os sintomas.
Qual objetivo da sua pesquisa?
Queremos que, a partir do momento em que apresentar resultado positivo em teste para a COVID-19, o paciente comece a fazer o tratamento, de modo a evitar a progressão para sintomas mais severos. Esse é o objetivo do desenvolvimento desse novo fármaco.
Qual a expectativa?
Esperamos fazer dessa molécula uma forma de tratamento para amenizar os sintomas apresentados pelos infectados pela COVID-19, porque, até o momento, a única forma segura de se evitar a doença é a vacina. Uma vez que o indivíduo desenvolve a doença serão usadas drogas para aliviar os sintomas. Isso é o que pretendemos: que as moléculas ajudem a atenuar os sintomas e reduzam a infecção para que os pacientes não sofram tanto com a doença. Hoje, o maior problema é que a COVID-19 está sobrecarregando o sistema de saúde e os pacientes que têm sintomas muito severos precisam de total atenção.
Qual a importância da sua pesquisa para a sociedade?
Até o momento não temos nenhuma droga comprovadamente eficiente contra o coronavírus. Hoje temos medicamentos eficazes contra outros vírus sendo indicados para tratar a COVID-19, numa tentativa de amenizar os efeitos da doença. A maior vantagem da nossa pesquisa é que as nossas moléculas já são direcionadas para o coronavírus. Então, até o final dos experimentos queremos entregar à sociedade um fármaco específico para tratar o vírus que causa a COVID-19, que possa – realmente – atenuar os sintomas e deixar com que o paciente infectado passe pela doença de uma forma mais suave do que a vista hoje, evitando internações e, consequentemente, o colapso do sistema de saúde que vivemos atualmente.
Assessoria de Comunicação Social do MEC com informações da CAPES
Fonte: https://www.gov.br/mec