OPAS: 70% das pessoas com Chagas não sabem que estão infectadas
Organização pede que os esforços para diagnosticar a doença, que afeta entre 6 e 8 milhões de pessoas nas Américas, sejam redobrados
No Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado nesta quarta-feira (14), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou que 70% das pessoas que vivem com a doença não sabem que estão infectadas.
Nas Américas, estima-se que 6 a 8 milhões de pessoas estejam infectadas com o parasita (Trypanosoma cruzi) que causa a doença. No entanto, a maioria das pessoas (7 em cada dez) desconhece sua condição devido à ausência de sintomas clínicos. Mais de 10 mil pessoas morrem a cada ano em consequência de complicações clínicas da doença de Chagas e cerca de 75 milhões de pessoas na região correm o risco de contraí-la.
“A doença de Chagas continua causando grande sofrimento e matando milhares de pessoas na América Latina, especialmente nos países mais pobres e entre as populações mais vulneráveis”, afirmou a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne.
Luis Gerardo Castellanos, chefe da Unidade de Doenças Transmitidas por Vetores, Tropicais e Negligenciadas da OPAS, disse que “aumentar a conscientização sobre a doença de Chagas é o primeiro passo para prevenir, detectar e tratar a enfermidade, bem como para quebrar a cadeia de transmissão”.
Originária do meio rural como doença transmitida por percevejos na habitação precária da população camponesa, “Chagas migrou, junto com os migrantes humanos, para as áreas urbanas onde a transmissão ocorre por transfusão e/ou por condição congênita, afetando milhares de pessoas”, explicou Castellanos.
Transmissão vertical
Cerca de 8 mil bebês nascem com Chagas todos os anos. Estima-se que mais de um milhão de mulheres em idade fértil podem estar infectadas na região sem saber, correndo o risco de transmitir a infecção a seus recém-nascidos.
“A transmissão da doença de Chagas de mãe para filho pode ser prevenida e, se detectada a tempo, pode ser curada”, explicou Etienne. “Devemos redobrar nossos esforços para que todas as crianças da região fiquem livres da doença”.
A OPAS está trabalhando com os países para fortalecer sistemas de saúde materno-infantil para que possam detectar e tratar a doença de Chagas rotineiramente, ao mesmo tempo que diagnosticam e tratam HIV, sífilis e hepatite B, eliminando assim a transmissão materno-infantil dessas quatro doenças.
Esses esforços fazem parte de uma iniciativa da OPAS que visa eliminar Chagas e mais de 30 doenças infecciosas e outras até 2030.
Apenas 1% dos infectados são tratados a cada ano
No quadro clínico, a doença de Chagas, como fator complicador, fica oculta no coração e no trato digestivo e, portanto, apenas 1% dos infectados são tratados a cada ano. A enfermidade deve ser diagnosticada por exames laboratoriais como causa desses casos e doenças, que atingem milhões de pessoas.
Alcançar a cobertura universal de saúde, incluindo gerenciamento clínico e aconselhamento para todas as pessoas diagnosticadas nos estágios finais, é essencial para controlar a doença e melhorar a qualidade de vida.
Sob o lema “Assistência e serviços de saúde integrais e equitativos para todos”, o Dia Mundial da Doença de Chagas deste ano tem o objetivo de aumentar a visibilidade da doença e aumentar e ampliar a consciência sobre a importância de melhorar a detecção precoce e, ao mesmo tempo, expandir a cobertura diagnóstica e o acesso equitativo aos serviços clínicos.
A pandemia e a doença Chagas
Como resultado da pandemia COVID-19, as ações para prevenir, controlar e cuidar das doenças negligenciadas, incluindo a doença de Chagas, foram interrompidas em vários graus em muitos dos países da Região; isso inclui esforços de controle de vetor de rotina.
“O ano de 2020 foi desafiador para os países em termos de lidar com a pandemia COVID-19 e, ao mesmo tempo, manter seus esforços no combate à doença de Chagas. Devemos retomar as atividades para mitigar eventuais danos ao alcance e impacto dos programas de prevenção e controle de Chagas na região”, argumentou Castellanos.
Doença de Chagas nas Américas em números
- A doença é endêmica em 21 países da região.
- 17 países interromperam a transmissão vetorial.
- Aproximadamente 75 milhões de pessoas nas Américas correm o risco de contrair a doença.
- 6 a 8 milhões de pessoas estão infectadas.
- 7 em cada 10 pessoas não sabem de sua condição.
- Estima-se que sejam 30 mil novos casos por ano, decorrentes das diversas formas de transmissão.
- Mais de 10 mil pessoas morrem a cada ano devido às complicações clínicas da doença.
- Entre 2% e 8% das gestantes com Chagas podem passá-la para seus bebês.
- Aproximadamente 8 mil recém-nascidos são infectados durante a gravidez a cada ano.
- A doença de Chagas é quase 100% curável se tratada na fase aguda inicial.
- Apenas 1% dos infectados são tratados a cada ano devido à presença clínica silenciosa ou expressão sintomática ambígua da doença.
- A prevalência média de doadores de banco de sangue detectados com doença de Chagas na América Latina é de 0,2%.
Fonte: https://www.paho.org