Secretário do MCTI destaca papel estratégico da soberania tecnológica na área de saúde
Discussões estratégicas e tecnológicas sobre o setor de produtos para saúde mobilizaram a 2ª edição do Seminário Novos Futuros, promovido pelo INT e CGEE
“Acadeia de valor da Saúde se torna cada vez mais estratégica, sendo fundamental fortalecer a soberania tecnológica e o ecossistema de suporte à inovação nesse ambiente”, destacou o secretário de Empreendedorismo e Inovação do MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, na quarta-feira (1), durante o Painel Estratégico do Seminário Novos Futuros. Em sua segunda edição, que abordou o tema Produtos para Saúde, o evento celebra os 100 anos do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), unidade de pesquisa vinculada ao MCTI, sendo organizado em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização supervisionada pelo ministério.
Em sua fala, Alvim reforçou a importância da cooperação convergente entre governo, instituições de pesquisa e as empresas do setor, cuja necessidade foi reforçada pela pandemia. Neste esforço, o secretário sinaliza novos investimentos por parte do MCTI, que incluem a chamada de R$ 250 milhões do edital Universal do CNPq (lançado em 31 de agosto) e previsões ainda para este ano de apoio à infraestrutura na área de saúde, aos INCTs e liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. Paulo Alvim também ressaltou a contribuição do centenário INT – com trajetórias relevantes no setor e atuação como Unidade Embrapii – e de outras ICTs, que segundo ele deverão ter um papel crescente em apoio à inovação no setor empresarial.
Mediado pela diretora do INT, Iêda Caminha, o Painel Estratégico contou ainda com a participação da coordenadora-geral de Inovação Tecnológica em Saúde do Ministério da Saúde (MS), Luciene Schluckebier Bonan, e do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), Franco Pallamolla.
No debate, Luciene Schluckebier também destacou a previsão de novos editais do MS com tópicos específicos para produtos de saúde, que está sendo construído junto com a Financiadora de Inovação e Pesquisa (FINEP/MCTI); e chamadas específicas com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), direcionadas ao monitoramento de tecnologias e linhas específicas com o MCTI, voltadas ao desenvolvimento de novos materiais com mais eficiência e menor custo. A coordenadora-geral de Inovação Tecnológica do MS também destacou o aporte do Ministério na Embrapii e apoio às startups, em temas tecnológicos relacionados à saúde e detalhou o processo de incorporação de tecnologias de saúde pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.
Franco Pallamolla relatou as dificuldades que a indústria nacional de dispositivos médicos vem enfrentando em relação às importações, que têm contado com incentivos fiscais. “Se um hospital importar um implante ortopédico, ele não paga imposto, mas, se o mesmo hospital comprar a prótese nacional, esta vai ser acrescida do IPI, PIS/Cofins e ICMS: uma diferença da ordem de 30%, e não tem ganho de produtividade que compense esse impacto” – relata o empresário. Pallamola reivindica também que haja um link entre o apoio ao desenvolvimento de produtos e a sua compra pelo Estado, de modo que o investimento das empresas em inovação seja incentivado. O presidente da ABIMO destaca a necessidade de uma política industrial de Estado e perene visando a independência tecnológica do Brasil na produção de dispositivos médicos.
A íntegra do Painel Tecnológico do Seminário Novos Futuros pode ser assistida:
Painel Científico-Tecnológico
Nesta edição sobre Produtos para Saúde, o Seminário Novos Futuros reuniu também um grupo seleto de pesquisadores do Brasil e da França, que apresentaram projetos e soluções tecnológicas que vêm modificando os paradigmas da fabricação de produtos para a saúde. Mediados pelo coordenador de Planejamento Tecnológico do INT, Maurício Monteiro, no Painel Científico-Tecnológico, eles mostraram novas técnicas relacionadas ao uso de manufatura avançada, tecnologias digitais, nanotecnologia e plataformas tecnológicas.
A engenheira metalurgista Andersan dos Santos Paula, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais do Instituto Militar de Engenharia (IME-RJ), falou sobre suas pesquisas com manufatura aditiva avançada de ligas metálicas e destacou a importância de intensificar a formação de recursos humanos nessa área. O trabalho em redes e das equipes multidisciplinares também foi ressaltado pela professora, que aponta para o papel estratégico das pequenas empresas, considerando que as demandas por impressão 3D, em especial no setor de saúde, são por produtos personalizados, que implicam em um volume pequeno de produção. “Nesta escala, a manufatura aditiva permite o desenvolvimento de produtos de maior complexidade a um menor custo”, destaca a coordenadora do IME.
O diretor do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), Jorge Vicente Lopes, idealizador do Núcleo de Tecnologias Tridimensionais (NT3D) do CTI, evidenciou a versatilidade da manufatura avançada. “A impressão 3D utiliza materiais diversos, como polímeros, metais, ligas, cerâmicas e até mesmo células, que assim como compósitos de outros materiais podem ser organizadas em geometrias complexas na produção de biomateriais que reconstituem características de tecidos humanos” – relata o pesquisador. Jorge Lopes mostrou programas que lidera em apoio a demandas do Ministério da Saúde, incluindo o desenvolvimento do software livre InVesalius, que reconstitui imagens médicas em 3D para produzir modelos usados em planejamento cirúrgico virtual, bioengenharia e biofabricação, já baixado por mais de 81 mil usuários em 171 países.
Professora-pesquisadora do Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse, da França, Anna Carla Araujo descreveu novas técnicas de produção em série e personalização de produtos metálicos, usadas na indústria aeronáutica e médica. Ela também abordou os processos de certificação e rastreabilidade de produtos que são exigidos das indústrias aeronáuticas na França, que incidem não somente sobre os projetos originais, mas sobre toda fabricação. “Na área da saúde, se fabricamos as peças em série a empresa é certificada, mas, se fabricamos as peças por pequenas empresas elas deveriam ter naturalmente esse tipo de certificação” – propõe a pesquisadora, se referindo especialmente às peças de manufatura avançada, produzidas sob demanda personalizada.
Também radicada na França, a professora Maria Inês Ré, diretora-adjunta do Centre Rapsodee – associado ao École des Mines d-Albi-Carmaux, do Ministério da Indústria francês – responsável pelo desenvolvimento de plataformas tecnológicas, falou sobre o design organizacional usado nesse tipo de ferramenta. “Articulando parcerias públicas e privadas visando a inovação, as plataformas tecnológicas integram um projeto estruturante para o desenvolvimento econômico” – relata a pesquisadora.
A íntegra do Painel Científico-Tecnológico do Seminário Novos Futuros pode ser assistida:
Fonte: https://www.gov.br/mcti