Sistema imune tem 1,8 trilhão de células e pesa mais de um quilo, mostra estudo inédito
Cientistas divulgam estimativa mais abrangente até agora sobre o arsenal de defesa biológica do organismo humano, que se espalha por todo o corpo
Um grupo de cientistas israelenses divulgou nesta segunda-feira o mais abrangente “censo” do sistema imune humano até agora. O corpo humano possui, segundo o estudo do grupo, cerca de 1,8 trilhão de células de defesa, que juntas pesam mais de um quilo.
Esses são os números para um corpo de referência que os pesquisadores usaram, que no caso foi um homem de 72 kg. Um artigo detalhando os resultados está na edição desta segunda-feira da revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Esse tipo de trabalho com estimativas de dimensão do sistema imune é tipicamente desafiador, porque as células que o compõem estão espalhadas em órgãos de todo o corpo, seu estudo envolve médicos e biólogos de diferentes especialidades.
Os autores do estudo, liderado por Ron Sender, do Instituto Weizmann de Israel, produziram o censo com base em 66 diferentes pesquisas de outros cientistas, que separadamente contabilizaram os diferentes tipos de células em cantos diferentes do corpo.
Foram combinados no censo estudos de imagem médica com outros de detecção de células por técnicas de biologia molecular, que os cientistas padronizaram para criar uma combinação.
“Nós observamos as maiores densidades de células imunes dentro do sistema linfático e da medula óssea, os órgãos que consistem primariamente em células imunes”, descrevem os cientistas no estudo. “Com uma densidade tipicamente dez vezes menor que na medula óssea, os órgãos epiteliais (pele e mucosas internas) têm todos mais ou menos a mesma densidade.”
Uma surpresa para os autores foi constatar que o sistema gastrointestinal possui apenas 3% das células mapeadas, porque estimativas anteriores menos precisas apontaram proporções maiores.
Exército celular
Além de mapear a localidade das células, os cientistas detalharam quais elas são por tipo e subtipo.
Os linfócitos, que incluem e células B e T, são as mais abrangentes do organismo, sendo 40% da população e 15% do peso do sistema imune. Esses elementos são os mais habilidosos em reconhecer e “lembrar” de bactérias ou vírus para organizar contra ataques, seja produzindo anticorpos, caso dos linfócitos B, ou atacando diretamente os invasores, caso dos T.
Outros 40% da população do sistema imune são compostos pelos neutrófilos, células menores e menos duradouras que os linfócitos, mas mais eficientes para criar uma reação de emergência contra patógenos invasores. Seu peso também representa cerca de 15% do sistema imune.
O terceiro tipo mais representativo de célula são os macrófagos, que são uma espécie de “equipe de limpeza” do sistema imune, que recolhem não só restos de patógenos atacados, mas também células mortas, engolindo qualquer corpo estranho que veem pela frente. Mesmo sendo apenas 10% das células imunes, elas constituem 50% do peso do sistema imune, porque são individualmente muito grandes.
Defesa onipresente
Cada célula tem seus locais de predominância, além disso, apesar de todas estarem presentes em quase todo organismo em alguma medida. Enquanto na medula óssea predominam os neutrófilos, no baço e nos linfonodos predominam os linfócitos. Os macrófagos são maioria no fígado, no pulmão e em outros órgãos cuja função primária não é imunológica.
O trabalho dos cientistas israelenses não deve ter uma aplicação imediata em imunologia, mas eles se dizem confiantes de que ele pode ajudar a embasar estudos futuros na área. As técnicas de medição de células usadas por eles, além disso, tem aspectos inovadores que podem inspirar estudos de fisiologia de outras partes do corpo humano.
“Essas estimativas servem como base para responder a algumas questões quantitativas básicas sobre o sistema imune para as quais até agora não existia resposta. Por exemplo, qual é o maior órgão imunológico do corpo humano?”, escrevem Sender e seus coautores. “É comum que o trato gastrointestinal seja citado como aquele que contém a maioria das células imunes, ou pelo menos a maioria dos linfócitos. Nossa análise sugere que os órgãos imunes mais significativo são a medula óssea, os linfonodos e o baço.”
Fonte: https://oglobo.globo.com